Frequentando as feiras de venda de pássaros desde criança, pôde observar como os criadores portugueses se mantinham fieis ao canário rústico, variegado, em que o lipocromo e o melânico se fundem, muito antes de as organizações internacionais estabeleceram a rígida divisão entre melânicos e lipocromos que é, naturalmente, uma divisão artificial, embora lógica e aceitável.
As aves variegadas eram de dois tipos: ou amarelo e verde ou cinza e branco. Nos últimos 15 anos tem observado o aparecimento nessas feiras de aves portadoras de uma mistura do cinza com o laranja, o bronze, o branco, o amarelo, aves de uma grande beleza e estrutura de corpo, viveza de expressão e alegria de canto, além de uma rusticidade elevada.
Decidiu, por isso, cultivar este tipo de canários. O exame cuidadoso permitiu-lhe observar a existência, além destas cores, do castanho do dorso, que não toma a cor de fundo laranja, e os bastonetes negros. Assim, estes animais possuem um total de 6 cores.
GeneralidadesO canário Arlequim Português é, essencialmente, um canário de desenho, polícromo, vivo, rústico, alegre, que mantém a tradição da variedade de desenho, que existiu sempre nos ancestrais criados pelos passarinheiros.
As exigências dos concursos e o desejo de dar origem a raças sofisticadas, quer no porte, quer no canto, quer na cor, conduziu ao desaparecimento do canário vivo e alegre que se criava entre os amantes do animal em si e que cativava as pessoas em geral que desejavam apenas ter em sua casa um canário para cantar.
Muitos dos animais altamente classificados dos dias de hoje são pássaros tristes, deformados, diríamos quase estropiados, quando não votados ao enclausuramento em gaiolas minúsculas, vivendo no escuro, o que conduz ao canto dito suave que, na verdade, mais parece um canto triste. Em reacção a esta situação, os criadores espanhóis seleccionaram o Timbrado, de canto vibrante, mas não atenderam, neste canário, à plumagem.
É curioso observar como algumas raças de canários deixam transparecer de modo significativo o carácter das populações que os criaram: O Frizado Parisiense parece conter em si uma bailarina de Can-Can. Por sua vez o Yorkshire representa a distinção do lord inglês. Ao alemão assemelha-se o canário do Harz, resultado de uma disciplina rigorosa, assumida em escolas alinhadas, como os elementos de um exército. O Timbrado reflecte o folclore espanhol, com as suas castanholas.
Em Portugal, mercê das características da população, rústica, avêssa a racismos e, ao contrário, mais dada a fusão das raças, criou-se um canário de cores múltiplas, vivo, alegre. É o canário Arlequim Português.
Deve notar-se que esta raça permite uma variedade de desenhos que tornam a sua criação fascinante pelo imprevisto e impede a monotonia que outras raças de cor imprimem às exposições onde são apresentadas centenas de aves todas iguais, com pequenas diferenças, só reconhecíveis por especialistas.
Surgiu um canário português! Como é sabido existem muitas raças de canários. Umas são inglesas, outras francesas, italianas, belgas, holandesas, alemães e até americanas e japonesas. Só os criadores portugueses não desenvolveram ainda uma raça da canários.
Sendo o canário oriundo das Ilhas Canárias mas também das ilhas portuguesas dos Açores e da Madeira, parece que Portugal devia ter sido um pioneiro na criação de raças. Porquê este marasmo? Não é fácil encontrar uma resposta. Mas fica-nos sempre a sensação da nossa incapacidade, a frustração de que não somos capazes de realizar ou de criar ideias novas. Por isso nos habituamos a procurar os produtos estrangeiros e a pôr de lado os produtos nacionais.
Por outro lado, e talvez devido a esta situação, somos muito desconfiados em relação aos produtos portugueses e se alguém se propõe fazer algo de novo há logo uma data de críticos encartados que, por baixo de um sorriso encapotado, se armam em doutores da lei, sempre prontos a criticar, embora não se disponham a fazer. Não fazem, nem deixam fazer, como é costume dizer-se. Inveja? Nem isso. É apenas a mesquinhez da nossa tradição.
Esta é, sem dúvida, a maior e principal raiz da nossa incapacidade. É evidente que sem um trabalho de equipa não é possível criar uma raça. Só o trabalho de conjunto permite lançar um novo tipo de canários. Portanto, se não houver entre ajuda , nada feito.
Mas antes de tudo é preciso ter a ideia, criar um standard próprio. Pois bem, isto já está feito. Já surgiu um canário português!
Foi primeiro apresentado a nível de Clubes e feita a primeira apresentação ao Clube de Juizes, em seguida, fez o seu aparecimento no 58º Campeonato Nacional, na Exponor.
Pode dizer-se que, apesar das naturais reticências criadas em redor de tudo o que é novo, o canário Arlequim Português foi um êxito. A avaliar pelo número de criadores que se inscreveram para adquirir reprodutores, visto que os disponíveis se esgotaram rapidamente, estamos certos de que em breve os amadores portugueses terão em suas casas esta magnífica ave que não desmerece de qualquer outra criada pelos estrangeiros.
Como todas as novidades há sempre pontos que podem ser melhorados, mas pode -se sempre cair em erro, com essa preocupação o Prof. Dr. Armando Moreno escreveu a seguinte carta que passo a transcrever:
EM DEFESA DA PUREZA DA RAÇA
26 de Setembro de
2011
A dedicação dos criadores ao canário Arlequim Português e uma certa ansiedade em relação à beleza das aves tem conduzido, ao contrário do que seria desejável, a uma dispersão de linhas que saem da pureza original. A irrequieta inventiva tão própria do povo português tem dado origem a uma série de mutações que, se são louváveis pelo que representam de amor ao Arlequim, acabam por pôr em risco todo o trabalho já realizado. São vários os aspectos a considerar:
Em primeiro lugar não podemos deixar de ter em consideração que o Arlequim só foi aprovado há cerca de um ano, dando, por isso, os primeiros passos a nível de Concursos internacionais.
Por outro lado, a própria existência da raça é muito recente se comparada com outras raças. Significa isto que precisa de afirmação e de uma selecção apertada em torno do tipo que foi apresentado para aprovação pela COM, isto é, o pássaro original, sem mutações.
Em terceiro lugar temos de aceitar que Portugal é um País relativamente pequeno, com número limitado de criadores e que a dispersão de classes só vem enfraquecer a tipologia da raça.
Em quarto lugar, as questões levantadas, do ponto de vista legal em torno da aprovação de classes só estão claramente definidas a nível da COM, encontrando-se discrepâncias importantes no comportamento dos vários países quanto à aprovação de classes dentro dos canários de Porte, nomeadamente em relação à cor.
Acresce que a afirmação do Arlequim como raça bem definida, com todos os criadores empenhados em manter a pureza da raça aconselha a bom senso e uniformidade, pois é na união que reside a força.
Além destas razões, corre-se um risco quase insustentável ao abrir as portas a mutações: o número de cores nos canários é hoje quase ilimitado, acima de 100; se hoje se abrir ao castanho, ao opal, ao ágata, amanhã será ao topázio, ao ónix, ao satiné, ao feo, ao asa cinza ou outras cores que surjam. Onde estão, em Portugal, criadores que se dediquem, a sério, a tanta variedade?
Por último, deve ser referido que já aconteceu que a falta de precisão e definição segura de princípios levou a COM a anular uma raça que já estava aprovada e que, portanto, há que ter toda a prudência nas nossas decisões para que não venha a acontecer o mesmo ao Arlequim.
É certo que existem aves mutantes, sejam castanhas, ágatas ou opal muito belas mas a prudência aconselha a consolidarmos o Arlequim na sua pureza, pelo menos durante uma década. Depois deste trabalho realizado poderá rever-se o standard já com outros fundamentos.
Vamos, por isso, concentrar a nossa atenção no trabalho.
A dedicação dos criadores ao canário Arlequim Português e uma certa ansiedade em relação à beleza das aves tem conduzido, ao contrário do que seria desejável, a uma dispersão de linhas que saem da pureza original. A irrequieta inventiva tão própria do povo português tem dado origem a uma série de mutações que, se são louváveis pelo que representam de amor ao Arlequim, acabam por pôr em risco todo o trabalho já realizado. São vários os aspectos a considerar:
Em primeiro lugar não podemos deixar de ter em consideração que o Arlequim só foi aprovado há cerca de um ano, dando, por isso, os primeiros passos a nível de Concursos internacionais.
Por outro lado, a própria existência da raça é muito recente se comparada com outras raças. Significa isto que precisa de afirmação e de uma selecção apertada em torno do tipo que foi apresentado para aprovação pela COM, isto é, o pássaro original, sem mutações.
Em terceiro lugar temos de aceitar que Portugal é um País relativamente pequeno, com número limitado de criadores e que a dispersão de classes só vem enfraquecer a tipologia da raça.
Em quarto lugar, as questões levantadas, do ponto de vista legal em torno da aprovação de classes só estão claramente definidas a nível da COM, encontrando-se discrepâncias importantes no comportamento dos vários países quanto à aprovação de classes dentro dos canários de Porte, nomeadamente em relação à cor.
Acresce que a afirmação do Arlequim como raça bem definida, com todos os criadores empenhados em manter a pureza da raça aconselha a bom senso e uniformidade, pois é na união que reside a força.
Além destas razões, corre-se um risco quase insustentável ao abrir as portas a mutações: o número de cores nos canários é hoje quase ilimitado, acima de 100; se hoje se abrir ao castanho, ao opal, ao ágata, amanhã será ao topázio, ao ónix, ao satiné, ao feo, ao asa cinza ou outras cores que surjam. Onde estão, em Portugal, criadores que se dediquem, a sério, a tanta variedade?
Por último, deve ser referido que já aconteceu que a falta de precisão e definição segura de princípios levou a COM a anular uma raça que já estava aprovada e que, portanto, há que ter toda a prudência nas nossas decisões para que não venha a acontecer o mesmo ao Arlequim.
É certo que existem aves mutantes, sejam castanhas, ágatas ou opal muito belas mas a prudência aconselha a consolidarmos o Arlequim na sua pureza, pelo menos durante uma década. Depois deste trabalho realizado poderá rever-se o standard já com outros fundamentos.
Vamos, por isso, concentrar a nossa atenção no trabalho.
Prof. Dr. Armando
Moreno
(Presidente Honorário do C.C.A.P.)
(Presidente Honorário do C.C.A.P.)
Standard Arlequim Português
"Em reunião realizada pela Comissão Técnica do CCAP em 22/07/2011, e nos
termos do Art.º 24.º dos Estatutos, foi decidido proceder a Alterações do
Standard do Canário Arlequim Português, tendo sido aprovadas por maioria, e que
a seguir se reproduzem. - As mesmas Alterações foram rectificadas pela Direcção
do CCAP."
O Presidente do CCAP, Mário Costa
Gaiola de exposição: é a modelo D com 2 poleiros. Principais defeitos
Alguns exemplares:
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